Autores
Associacionismo – Wundt
Esta corrente estudou a consciência humana, e em especial as suas experiências sensoriais, seguindo o modelo da Química (segundo o qual, todas as substâncias são compostas por átomos que se combinam formando moléculas). Neste sentido, foi designada por concepção atomista, porque decompôs os processos mentais nos seus elementos mais simples (sensações, ideias), a fim de descobrir as suas combinações e conexões no sistema nervoso e as estruturas que com eles estavam relacionados. Foi também designada por concepção estruturalista, dado que o seu objectivo era o estudo da estrutura da consciência.
Wundt apresenta os processos mentais conscientes como objecto de estudo e a introspecção controlada como método. Procura identificar os elementos básicos da consciência – as sensações. Ao sabermos o modo como se combinam as sensações, identificaremos a estrutura da actividade consciente. Daí esta concepção ser vulgarmente designada por associacionismo. Apesar de Wundt representar o ponto de partida da Psicologia científica, a sua concepção não rompe com a tradição introspectiva, muito próxima da Filosofia. (idêntico à Filosofia)
Behaviorismo – Watson
Watson rompe com a concepção tradicional de Psicologia sendo considerado o pai da psicologia científica. Recorre ao método experimental para estudar o comportamento. O comportamento (behavior) é o conjunto de respostas observáveis a estímulos igualmente observáveis provenientes do meio. Somos totalmente condicionados pelo meio [R = f (S) – as respostas em função das situações]. Alterando as situações que condicionam o comportamento podemos modificá-lo. O estabelecimento de leis do comportamento resulta do estudo das variações das respostas em função da situação. O psicólogo, conhecendo o estímulo, deverá ser capaz de prever a resposta e se conhecer a resposta deverá poder identificar o estímulo. Watson considera que a existência de factores hereditários é irrelevante e que os factores do meio são determinantes no desenvolvimento da criança
Crítica: Apresentou uma concepção limitada e simplista de comportamento ao reduzi-lo à fórmula E – R (estímulo – resposta). Omitiu das suas investigações os processos mentais e factores fundamentais para a compreensão do comportamento: história da vida do sujeito, a sua personalidade, etc.
Piaget e Fraisse consideram que o comportamento é a manifestação de uma personalidade (P) numa dada situação (S) - R = f (S P) . O comportamento é o produto de um processo complexo, em que intervêm factores internos e externos, a personalidade vai-se construindo no contexto do meio; nas diferentes situações vividas pelo sujeito. Por outro lado, o modo como a situação é encarada, interpretada, depende também da personalidade e das experiências anteriores do sujeito.
Gestaltismo – Köhler
O gestaltismo é uma corrente que deu um importante contributo na construção da Psicologia como ciência. Apesar de também estudar experiências conscientes vai-se demarcar da corrente associacionista, que defendia que a vida mental era constituída por elementos que se associavam. Opondo-se a esta concepção atomista e associacionista, postula que qualquer fenómeno psicológico é uma totalidade organizada, não redutível à soma dos elementos que a compõem, a percepção dos objectos é diferente da percepção do somatório dos elementos que o constituem. Percepcionados formas organizadas, totalidades – primeiro o todo que as partes. O gestaltismo considera o contexto em que ocorrem os fenómenos psicológicos (campo) fundamental para a compreensão dos mesmos, e enfatiza os processos de organização mental.
Construtivismo – Piaget
O construtivismo é a teoria do desenvolvimento do conhecimento, que procura descobrir as raízes dos distintos tipos de conhecimento desde as suas formas mais elementares e seguir o seu desenvolvimento até aos níveis superiores, nomeadamente o conhecimento científico.
Piaget parte do pressuposto que o conhecimento é uma continua construção, e que a inteligência não é mais do que uma adaptação do organismo ao meio, em resultado de um equilíbrio entre as acções do organismo sobre o meio e deste sobre o organismo (interacção).
O construtivismo (ou psicologia genética) procura explicar o desenvolvimento do pensamento (inteligência) como um processo que atravessa várias fases. Cada uma delas representa um estádio de equilíbrio, cada vez mais estável, entre o organismo e o meio, onde ocorrem determinados mecanismos de interacção, como a assimilação e a acomodação.
Esta é uma concepção psicogenética do conhecimento, atribuindo ao indivíduo um papel activo na construção do conhecimento. As estruturas da inteligência não são apenas inatas e o sujeito não organiza a experiência do meio apenas a partir dessas estruturas (como defendia o gestaltismo) e o comportamento não é apenas o resultado da acção do meio sobre o sujeito (como defendia o behaviorismo). O conhecimento é o produto de uma construção contínua do sujeito agindo sobre o meio
Psicanálise – Freud
As concepções desenvolvidas por Freud têm um papel central na história da Psicologia pelo seu carácter inovador e revolucionário. O fundador da Psicanálise recusa a concepção, então vigente, segundo a qual o comportamento seria totalmente controlado pela razão e pela vontade. Afirma a existência do inconsciente que define como uma zona do psiquismo constituída por desejos, impulsos, fundamentalmente de carácter sexual – libido. Como o próprio nome indica, não seria possível aceder, através da introspecção, a esses materiais inconscientes; contudo, teriam grande influência no comportamento.
Uma outra inovação apresentada pela Psicanálise foi a afirmação da existência da sexualidade infantil, anterior, portanto, à puberdade. Manifestando-se desde o nascimento, a sexualidade assume diferentes manifestações nos diferentes estádios psicossexuais sendo um elemento essencial no processo de desenvolvimento da personalidade.
Segundo Freud, o psiquismo humana seria constituído pelas seguintes zonas: id, ego e superego. O id é a zona inconsciente, constituída por pulsões, recordações e desejos de que não temos consciência. Existe desde o nascimento, regendo-se pelo princípio do prazer. Este princípio orienta-se pelo objectivo de satisfazer os impulsos e desejos, fundamentalmente de natureza sexual. O ego é a zona consciente do psiquismo que se forma a partir do id no primeiro ano de vida. Pressionado pelo id, que visa a realização de desejos e pulsões, e pelo superego, que representa a moral, o ego vive frequentemente conflitos. O superego é a instância do psiquismo que corresponde à interiorização dos valores e normas sociais e morais vigentes na sociedade. Constrói-se entre os 3 e os 5 anos no processo de socialização tendo como modelos os pais e outros adultos significativos. Pressiona o ego para não realizar os impulsos do id. O ego orienta-se pelo princípio da realidade que procura responder às exigências sociais.
Com características específicas, as três instâncias do psiquismo têm dinâmicas próprias que são geradoras de conflitos. Concretamente, o ego é simultaneamente pressionado pelo id (satisfação dos desejos) e pelo superego (componente moral do psiquismo). As situações e conflito são geradoras de angústia e ansiedade existindo então mecanismos de defesa do ego (meios para reduzir os sentimentos de angústia a ansiedade/tensão que resultam desses conflitos.
Psicanálise – Freud
As concepções desenvolvidas por Freud têm um papel central na história da Psicologia pelo seu carácter inovador e revolucionário. O fundador da Psicanálise recusa a concepção, então vigente, segundo a qual o comportamento seria totalmente controlado pela razão e pela vontade. Afirma a existência do inconsciente que define como uma zona do psiquismo constituída por desejos, impulsos, fundamentalmente de carácter sexual – libido. Como o próprio nome indica, não seria possível aceder, através da introspecção, a esses materiais inconscientes; contudo, teriam grande influência no comportamento.
Uma outra inovação apresentada pela Psicanálise foi a afirmação da existência da sexualidade infantil, anterior, portanto, à puberdade. Manifestando-se desde o nascimento, a sexualidade assume diferentes manifestações nos diferentes estádios psicossexuais sendo um elemento essencial no processo de desenvolvimento da personalidade.
Lev Vygotsky
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Pensador importante em sua área, foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interacções sociais e condições de vida. Veio a ser descoberto pelos meios académicos ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934, por tuberculose, aos 37 anos.
Biografia
Filho de uma próspera família judia, formou-se em Direito pela Universidade de Moscovo em 1918. Durante o seu período académico estudou simultaneamente Literatura e História na Universidade Popular de Shanyavskii.
No ano de seu bacharelado em Direito (1918), retornou para Gomel, onde havia anteriormente leccionado. Seis anos mais tarde, aos 28 anos de idade, desposou Rosa Smekhova, com quem teve duas filhas. Ainda em Gomel, ministrou um curso de Psicologia no "Instituto de Treinamento de Professores" onde implantou um laboratório de Psicologia. No mesmo período fundou uma editora e publicou uma revista literária.
Apesar de sua formação em Direito, destacou-se à época por suas críticas literárias e análises do significado histórico e psicológico das obras de Arte, trabalhos que posteriormente foram incorporados no livro "Psicologia da Arte", escrito entre 1924 e 1926, incluindo naturalmente a tese de doutorado sobre Psicologia da Arte, que defendeu em 1925. O seu interesse pela Psicologia levou-o a uma leitura crítica de toda produção teórica de sua época, nomeadamente as teorias da "GestaltPsicanálise e o "Behaviorismo", além das ideias do educador suíço Jean Piaget. As obras desses autores são citadas e comentadas em seus diversos trabalhos, tendo escrito prefácios para algumas das suas traduções ao idioma russo.", da
Tendo vivido a Revolução Russa de 1917, bem como estudado as obras de Karl Marx e Friedrich Engels, a partir das proposições teóricas do materialismo histórico propôs a reorganização da Psicologia, antevendo a tendência de unificação das Ciências Humanas no que denominou como "psicologia cultural-histórica".
Entre os seus trabalhos de campo incluem-se visitas às populações camponesas isoladas de seu país, fazendo testes neuropsicológicos entre as aldeias nómadas do Uzbequistão e do Quirguistão (Ásia Central), antes e depois do realinhamento cultural e sócio-económico da revolução socialista, que incluía alfabetização, cursos rápidos de novas tecnologias, organização de brigadas, fazendas colectivas e outros, como descreve Alexander Luria em seu ensaio sobre diferenças culturais e o pensamento (Vigotskii et al., 1988).
A experiência vivida na formação de professores levou-o ao estudo dos distúrbios de aprendizagem e de linguagem, das diversas formas de deficiências congénitas e adquiridas, a exemplo da afasia. Complementando a sua formação para estudo da etiologia de tais distúrbios, graduou-se em Medicina retomando o curso iniciado e substituído por Direito em Moscou e retomado e concluído em Kharkov. O seu interesse em Medicina estava associado à manutenção do grupo de pesquisa ("troika") de neuropsicologia com Alexander Luria e Alexei Nikolaievich Leontiev. As suas principais contribuições à defectologia estão reunidas no livro "Psicologia Pedagógica".
Graças a uma conferência proferida no "II Congresso de Psicologia" em Lenigrado, foi convidado a trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou. O seu interesse simultâneo pelas funções mentais superiores, cultura, linguagem e processos orgânicos cerebrais pesquisados por neurofisiologistas russos com quem conviveu, especialmente Luria e Leotiev, em diversas contribuições no "Instituto de Deficiências de Moscou", na direcção do departamento de Educação (especial) de Narcompros, entre outros institutos, além das publicações sobre o tema, encontram-se reunidos na obra "A Formação Social da Mente", onde aborda os problemas da génese dos processos psicológicos tipicamente humanos, analisando-os desde a infância à luz do seu contexto histórico-cultural.
A Influência Socialista e da Morte na sua Proposição Teórica
Vygotsky é o grande fundador da escola soviética de psicologia histórico-cultural. Era necessário, na época, a construção de uma ponte que ligasse a psicologia "natural", mais quantitativa, à psicologia "mental", mais subjectiva. Retornou a Moscou em 1924, envolvido em vários projectos.
Apesar da vida breve, foi autor de uma obra muito importante, junto com seus colaboradores Alexander Luria e Alexei Leontiev - eles foram responsáveis pela disseminação dos textos de Vygostky, muitos deles destruídos com a ascensão de Stálin ao Kremlin. Devido à censura soviética, seus trabalhos ganharam dimensão há pouco tempo, inclusive dentro da Rússia. No ocidente, a primeira tradução de um livro seu, Pensamento e Linguagem, foi lançada em 1962 nos Estados Unidos.
Os seus primeiros estudos foram voltados para a psicologia da arte. Extremamente culto, tinha entre seus amigos o grande cineasta Sergei Eisenstein, admirador de seu trabalho. Suas proposições para análise da obra de arte fazem um contraponto com a teoria psicanalítica e estudos da mitologia (fábulas), linguística e poética dos formalistas russos (1915-1920), sendo considerado pioneiro no que respeita o moderno estudo da arte literária. É possível que as restrições à suas obras, pelo governo estalinista estejam associadas à censura da psicanálise naquele país, a exemplo da perseguição e fechamento, em 1926, da clínica psicanalítica para crianças de Sabina Spielrein (1885-1942), uma psicanalista formada por C. G. Jung.
Para Rego (2007) a proibição da edição das suas obras na União Soviética entre 1936 e 1956, iniciou-se com a identificação deste como idealista, a partir das suas críticas a utilização das teoria de Pavlov quanto às potencialidades de condicionamento ambiental. Vigotski, apesar de concordar com a ideia da plasticidade do homem face a cultura, argumentava com a cúpula do regime estalinista sobre a capacidade humana de criar seu ambiente dando origem a novas formas de consciência e/ou organização. Somente com o fim da censura do totalitário regime estalinista que começou a ser redescoberto iniciando-se pela publicação de seu clássico Pensamento e linguagem.
O contexto em que viveu Vygotsky ajuda a explicar o rumo que seu trabalho iria tomar. As suas ideias foram desenvolvidas na União Soviética criada pela Revolução Russa de 1917 e reflectem o desejo de reescrever a psicologia, com base no materialismo marxista. O projecto ambicioso e a constante ameaça da morte (a tuberculose manifestou-se desde os 19 anos de idade e foi responsável por sua morte prematura) deram ao seu trabalho, abrangente e profundo, um carácter de urgência.
Hoje sabemos quanto foi fundamental para o desenvolvimento da psicologia, em especial na União Soviética, o diálogo que esse pensador estabeleceu com a teoria marxista da sociedade. As concepções de Engels sobre o trabalho humano e uso de instrumentos como os meios pelos quais o homem transforma a natureza, transformando a si mesmo numa perspectiva da evolução das espécies. Somada às contribuições de Karl Marx sobre as influências das mudanças históricas da sociedade e da vida material na consciência e comportamento humano que são retomados e utilizados na compreensão de um dos principais problemas propostos por Wilhelm Wundt (1832-1920) para a psicologia: o estudo da consciência incluindo a percepção de estímulos e os comportamentos complexos descritos na sua Psicologia dos povos (Volkerpsychologie).
É a partir do conceito marxista de ideologia que faz uma de suas principais críticas às proposições Wundt para o estudo da linguagem, mitologia, arte, religião, costumes e leis, que para ele é o estudo da ideologia e não do psiquismo social – ou capacidade de vida social do ser humano, esse animal político (zoon politicon) da proposição aristotélica citada por Marx. Para Vigostki, porém, não se pode reduzir esse estudo à génese das ideologias a partir da economia política (o que foi entendido como críticas ao marxismo) nem propor uma oposição entre o social e individual, como se fazia para distinguir a psicologia das demais ciências sociais. A psique é sempre efectivamente social e efectivamente construída. A oposição social x individual deve ser substituída por individual e colectiva, entendendo por colectivo as contribuições do indivíduo à colectividade (histórica, cultural, institucional), como pode ser visto na história da arte, o seu carácter intermental (interpessoal), entendendo a psicologia social como psicologia diferencial, cuja meta é identificar as diferenças individuais em indivíduos particulares, concordando com Biékhtieriev quanto a reflexologia do indivíduo particular e a reflexologcia colectiva, onde obtém-se os produtos sociais da actividade correlata de tais indivíduos. (Vigostki, 2001)
Tais proposições e problemas foram desenvolvidos a partir de proposta metodológica própria e aplicações práticas, na análise interpretação das obras de arte e na educação e reabilitação de danos neurológicos, por Vigotsky, ao contrário dos demais teóricos de sua época, na demonstração de como a cultura torna-se parte da natureza humana de cada pessoa através das funções psicológicas que simultaneamente são resultado da actividade cerebral. Segundo ele, esse método de estudo era denominado psicologia cultural-histórica ou instrumental (Vigotski et al, 1988)
Por outro lado, a defectologia, com sua análise das diversas causas das deficiências mentais e sensoriais, a especial contribuição que trouxe com a noção de sistema funcional para localização cerebral das atividades no sistema nervoso, revelam seu interesse na neurociência e continuidade da obra de Ivan Petrovich Pavlov (1849-1929) prêmio nobel (1904) de neurofisiologia, com o início da teoria dos reflexos condicionados, inibições e actividade nervosa superior. O que a escola de Vigotski dera continuidade. Alexander Luria, em um artigo sobre seu mestre e amigo Vigotski, referindo-se ao interesse comum de ambos pela neurologia e ao curso que realizavam na faculdade de medicina, lamenta perder o amigo nesse caminho de médico que o tempo não lhe permitira trilhar. (Vigotski et al, 1988). Vigostski morreu antes de completar 38 anos.
A Linguagem, a Aprendizagem e os Instrumentos Psicológicos
Instrumentos Simbólicos
Para Vygotsky, os signos, a linguagem simbólica desenvolvida pela espécie humana, têm um papel similar ao dos instrumentos: tanto os instrumentos de trabalho quanto os signos são construções da mente humana, que estabelecem uma relação de mediação entre o homem e a realidade. Por esta similaridade, Vygotsky denominava os signos de instrumentos simbólicos, com especial atenção à linguagem, que para ele configurava-se um sistema simbólico fundamental em todos os grupos humanos e elaborado no curso da evolução da espécie e história social.
Em um de seus derradeiros trabalhos (escritos entre 1930 – 1931), “História do desenvolvimento das funções nervosas superiores”, publicado em 1960 estuda os remanescentes de antigas formas de comportamento que o homem moderno conservou incluindo-as no sistema de outras formas (superiores) de comportamento.
A Linguagem
A linguagem é uma espécie de cabo de vassoura muito especial, capaz de transformar decisivamente os rumos de nossa actividade. Quando aprendemos a linguagem específica do nosso meio sociocultural, transformamos radicalmente os rumos de nosso próprio desenvolvimento. Assim, podemos ver como a visão de Vygotsky dá importância à dimensão social, interpessoal, na construção do sujeito psicológico.
As suas pesquisas sobre aprendizagem tiveram na sua maior parte enfoque na Pedagogia. Os processos de desenvolvimento chamaram a atenção de Vygotsky, que sempre procurou o aparecimento de novas formas de organização psicológica, ao invés de reduzir a estrutura de aprendizagem a elementos constitutivos.
Na área educacional, a influência de Vygotsky também vem crescendo cada vez mais, dando origem a experiências mais diversas. Não existe um método Vygotsky. Como Piaget, o psicólogo bielo-russo é mais uma fonte de inspiração do que um guia para os pedagogos.
Aprendizagem
As obras de Vygotsky incluem alguns conceitos que se tornaram incontornáveis na área do desenvolvimento da aprendizagem. Um dos conceitos mais importantes é o de Zona de desenvolvimento proximal, que se relaciona com a diferença entre o que a criança consegue realizar sozinha e aquilo que, embora não consiga realizar sozinha, é capaz de aprender e fazer com a ajuda de uma pessoa mais experiente (adulto, criança mais velha ou com maior facilidade de aprendizado, etc.). A Zona de Desenvolvimento Proximal é, portanto, tudo o que a criança pode adquirir em termos intelectuais quando lhe é dado o suporte educacional devido. Este conceito será, posteriormente desenvolvido por Jerome Bruner, sendo hoje vulgarmente designado por etapa de desenvolvimento.
Outra contribuição vygotskiana de relevo foi a relação que estabelece entre pensamento e linguagem, desenvolvida no seu livro "Pensamento e Linguagem". Entre suas contribuições a esse tema destacam a formação de conceitos, ao qual dedica dois capítulos do referido livro, e a compreensão das funções mentais enquanto sistemas funcionais, sem localização específica no cérebro de grande plasticidade e dinâmica variando ao longo da história da humanidade e do desenvolvimento individual. Concepção essa que foi posteriormente bem desenvolvida e demonstrada do ponto de vista neuropsicológico por seu discípulo e colaborador A. R. Luria.
Como bom marxista que domina os princípios da lógica e dialéctica pós Hegel (1770-1831), o conceito de síntese também pode ser encontrado largamente na sua obra. O autor define a síntese não apenas como a soma ou a justaposição de dois ou mais elementos, e sim como a emergência de um produto totalmente novo gerado a partir da interacção entre elementos anteriores.
Vygotsky particulariza o processo de ensino e aprendizagem na expressão obuchenie, uma expressão própria da língua russa que coloca aquele que aprende e aquele que ensina numa relação interligada. A ênfase em situar quem aprende e, aquele que ensina como partícipes de um mesmo processo corrobora com outro conceito chave na teoria de Vygotsky, a mediação, como um pressuposto da relação eu-outro social. A relação mediatizada não se dá necessariamente pelo outro corpóreo, mas pela possibilidade de interacção com signos, símbolos culturais e objectos. Um dos pressupostos básicos desse autor é que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro. Para Vygotsky a aprendizagem relaciona-se ao desenvolvimento desde o nascimento, sendo a principal causa para o desabrochar do desenvolvimento do ser.
Kohlberg
Kohlberg foi professor na Universidade de Chicago, bem como na Universidade Harvard. Especializou-se na investigação sobre educação e argumentação moral, sendo mais conhecido pela sua teoria dos níveis de desenvolvimento moral. Muito influenciado pela teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget, o trabalho de Kohlberg reflectiu e desenvolveu as ideias de seu predecessor, ao mesmo tempo criando um novo campo na psicologia: "desenvolvimento moral".
Ainda em 1971, contraiu um parasita tropical em Belize enquanto fazia um trabalho transcultural. Como resultado disso, ele lutou contra a dor física e a depressão pelo resto de sua vida. Em 19 de Janeiro de 1987 ele pediu um dia de alta do hospital de Massachusetts onde fazia tratamento, dirigiu até o Harbor de Boston, estacionou seu carro em uma rua sem saída, e mergulhou no mar. Tendo aparentemente cometido suicídio, faleceu aos 59 anos de idade[1]
Em um estudo empírico realizado por Haggbloom et al. utilizando seis critérios, tais como citações e reconhecimento, Kohlberg foi considerado o trigésimo psicólogo mais famoso do século XX.
Dentre os seus principais sucessores, estão James Rest e Elliot Turiel, que deram prosseguimentos às pesquisas de Kohlberg com contribuições relevantes.
Teoria do Desenvolvimento Moral
A teoria do desenvolvimento moral é a mais conhecida de Kohlberg. Sua teoria, assim como a de Piaget, são universalistas. Não afirma a universalidade das normas, mas a das estruturas que permitem a aplicação das normas em contextos precisos e proporcionam critérios para o juízo moral. Acredita que através de um processo maturacional e interactivo, todos os seres humanos têm a capacidade de chegar à plena competência moral, medida pelo paradigma da moralidade autónoma, ou, como prefere Kohlberg, pela da moralidade pós-convencional.[
Os seis estágios de Kohlberg podem ser, generalizadamente, agrupados em três níveis de dois estágios cada: pré-convencional, convencional, e pós-convencional.[4][5][6]
Seguindo as exigências construcionistas de Piaget de um modelo de estágios, como exposto em sua teoria do desenvolvimento cognitivo, é extremamente raro regredir em estágios – perder o uso de capacidades de estágios mais altos. Não se pode pular estágios, cada um fornece uma nova e necessária perspectiva, mais abrangente e diferenciada de seus predecessores, mas integradas com eles. Os estágios não avançam em "bloco", podendo a pessoa estar em determinado estágio em uma área, e em outro estágio em outra área. Sua teoria é dinâmica, e não apenas estática. Potencialmente, todo indivíduo é capaz de transcender os valores da cultura em que foi socializado, ele não apenas os incorpora passivamente. Com isso, a própria cultura pode ser modificada.
Podemos esquematizar a teoria de Kohlberg da seguinte maneira:
Nível 1 (Pré-Convencional)
1. Orientação "punição obediência"
(Como eu posso evitar a punição?)
2. Orientação auto-interesse (ou "hedonismo instrumental")
(O que eu ganho com isso?)
Nível 2 (Convencional)
3. Acordo interpessoal e conformidade
(Normas sociais)
(Orientação "bom moço"/"boa moça")
4. Orientação "manutenção da ordem social e da autoridade"
(Moralidade "Lei e Ordem")
Nível 3 (Pós-Convencional)
5. Orientação "Contrato Social"
6. Princípios éticos universais
(Consciência principiada)
Nível pré-convencional
O nível pré-convencional de argumentação moral é particularmente comum em crianças, embora adultos também possam exibir esse nível de argumentação. Nesse nível, o juízo da moralidade da acção é feito com base em suas consequências directas. O nível pré-convencional consiste apenas do primeiro e segundo estágios de desenvolvimento moral, e está preocupado apenas com o próprio ser de uma maneira egocêntrica. Alguém com uma moral pré-convencional ainda não adoptou ou internalizou as convenções da sociedade sobre o que é certo ou errado, mas, em vez disso, foca-se grandemente em consequências externas que certas acções possam ter.
O estágio 1 é o do castigo e obediência. Nesse estágio, a moralidade para a criança consiste em observar literalmente as regras, obedecer à autoridade e evitar o castigo. Por exemplo, uma acção é vista como errada apenas porque aquele que a cometeu foi punido. "Da última vez que fiz tal coisa, apanhei, então não farei de novo". Quanto pior a punição, pior é visto o acto. O ponto de vista é egocêntrico, o captor não distingue entre seus interesses e os dos outros, que o ponto de vista dos outros pode ser diferente do seu. Há uma deferência para aqueles vistos como de maior poder ou prestígio.
O estágio 2 é aquele em que a pessoa é movida apenas pelos próprios interesses. O comportamento moral consiste em seguir regras quando forem do interesse imediato do actor, e em reconhecer que os outros também têm seus próprios interesses, o que pode justificar uma troca entre atores, integrando interesses recíprocos, mas apenas até o ponto em que isso serve aos interesses do próprio actor. O ponto de vista inclui, portanto, o de outros indivíduos, numa base instrumental, ocorrendo uma certa descentração, embora mínima. O respeito pelos outros não está baseado em lealdade ou respeito mútuo, mas no sentido de "uma mão lava a outra". A falta de perspectiva do estágio 2 também não pode ser confundida com o estágio 5, pois aqui todas as acções têm o propósito de servir os próprios interesses ou necessidades do próprio indivíduo[
Nível convencional
O nível convencional de argumentação moral é típico de adolescentes e adultos. Aqueles que argumentam de uma maneira convencional julgam a moralidade das acções comparando-as com as visões do mundo e expectativas da sociedade. A moralidade convencional é caracterizada por uma aceitação das convenções sociais a respeito do certo e do errado. Nesse nível um indivíduo obedece regras e segue as normas da sociedade mesmo quando não há consequências pela obediência ou desobediência. Aderência a regras e convenções é de algum modo rígida, entretanto, a adequação da aplicação de uma regra ou a justiça dela é por vezes (poucas) questionada.
O estágio 3 é o das expectativas interpessoais mútuas, e do conformismo, em que o ser entra na sociedade preenchendo papéis sociais (identidade dos papéis). O correcto é atender às expectativas das pessoas de referência, ser um "bom moço", no papel de filho, irmão ou amigo, tendo sido ensinado que há um valor inerente a tal comportamento. O ponto de vista inclui as perspectivas dos outros e sentimentos compartilhados, que têm precedência sobre os interesses individuais. A argumentação do estágio 3 pode julgar a moralidade de uma acção valorando as suas consequências em termos dos relacionamentos de uma pessoa, a qual agora começa a incluir coisas como respeito, gratidão, e a "regra de ouro". Desejo de manter as regras e autoridade existe apenas manter esses papéis sociais. As intenções das acções desempenham um papel mais significante na argumentação neste estágio; "eles têm boas intenções…".
O estágio 4 é aquele em que a pessoa se move com base na obediência a autoridade e ordem social. O correcto é cumprir seu dever na sociedade, preservar a ordem social, e manter o bem-estar da sociedade ou do grupo. O ponto de vista é o do sistema ou do grupo social como um todo, e considera os interesses individuais dentre desse quadro de referência mais amplo. A argumentação moral no estágio quatro está além da necessidade de aprovação individual exibida no estágio três; a sociedade deve aprender a transcender necessidades individuais. Um ideal (ou ideais) central frequentemente prescreve o que é certo ou errado, como no caso do funcionalismo. Se uma pessoa viola uma lei, talvez todo mundo possa – portanto, há uma obrigação e um dever em manter leis e regras. A maioria dos membros activos da sociedade permanece no estágio quatro, onde a moralidade é predominantemente ditada por uma força externa.
Nível pós-convencional
O nível pós-convencional, também conhecido como "nível principiado", consiste dos estágios cinco e seis do desenvolvimento moral. Há uma crescente percepção de que os indivíduos são entes separados da sociedade, e de que a perspectiva do próprio indivíduo pode tomar precedência sobre a visão da sociedade; eles podem desobedecer regras inconsistentes com princípios universais que possam ser justificados. Essas pessoas vivem de acordo com seus próprios princípios abstractos sobre o certo e o errado – princípios que tipicamente incluem direitos humanos básicos. Devido ao fato desse nível colocar a "natureza do ser antes dos outros", o comportamento de indivíduos pós-convencionais, especialmente daqueles no estágio seis, podem ser confundido com o daqueles no nível pré-convencional. As pessoas que exibem uma moralidade pós-convencional vêem as regras como necessárias e como mecanismos mutáveis – idealmente, as regras podem ajudar a manter a ordem social geral e a proteger os direitos humanos. As regras não são ditas absolutos que devem ser obedecidos sem questionamentos, podendo ser desobedecidas ou modificadas com base em justificativas universais.
O estágio 5 é o dos direitos pré-existentes e do contrato social ou utilidade. A visão de mundo de quem está neste estágio é a de que no mundo existem pessoas de diferentes opiniões, direitos, e valores. O correcto é apoiar os direitos, valores e contratos jurídicos de uma sociedade, mesmo quando estão em conflito com as normas concretas do grupo. As leis são consideradas como contratos sociais em vez de um mandamento rígido. Aquelas que não promovem o bem-estar geral devem ser modificadas quando necessário para adequar-se ao "bem máximo para o maior número de pessoas". Isso é atingido através da decisão da maioria, e do comprometimento inevitável. Muitos dos actos de um governo democrático são baseados no estágio cinco.
O estágio 6 é o dos princípios universais éticos. As leis e acordos sociais só são válidos na medida em que derivam de tais princípios. Assim, quando a lei viola esses princípios, é preciso agir de acordo com eles. Os princípios em questão são os da igualdade dos seres humanos e o respeito por sua dignidade como indivíduos, considerados como fins e não enquanto meios, como na filosofia de Immanuel Kant. Existe uma capacidade de se imaginar no lugar do outro. O ponto de vista é universalista, transcendendo grupos e sociedades particulares, e se baseia numa ética válida para todos, da qual derivam arranjos e instituições concretas. Os direitos escritos formalmente não são necessários, pois os contratos sociais não são essenciais para a acção moral deôntica. O indivíduo age porque é o correcto a ser feito, não porque tal acção é instrumental, esperada, legal, ou foi previamente acordada. Para Kohlberg, raras pessoas atingem este estágio.